Colonoscopia salva-vidas

Pacientes precisam ser submetidos ao exame a partir dos 50 anos ou até mais cedo.

Operei de câncer intestinal um colega médico. Atlético, 60 anos de idade e sem histórico familiar de câncer. Fazia exames de rotina anualmente, orgulhoso de sua avaliação cardiológica, de sua próstata e por não usar óculos.

Após a retirada da parte doente do intestino, foi possível unir as partes sadias com segurança, sem a necessidade de uma colostomia. Porém, devido ao risco de disseminação do tumor, teria que fazer quimioterapia. Se o câncer estivesse no estágio inicial, não seria necessário.

Não é simples para o médico dar essas notícias, menos ainda, para o paciente, recebê-las. Nesse momento, percebi seus olhos e que suas lágrimas buscavam sua jovem mulher, que apertava sua mão. Ali estava meu paciente, amedrontado e decepcionado. Dos estimados 580 mil casos de câncer que ocorrem a cada ano no Brasil, ele era mais um, entre os 33 mil com câncer do cólon e reto. Queria entender por que aquilo estava ocorrendo, pois três anos antes havia sido operado de hemorroidas por outro cirurgião.

Longo silêncio de nós três.

Ao retomarmos a conversa, me desdobrei em confortar marido e mulher, sem nada omitir. A endoscopia limitada ao reto, a que ele fora submetido antes da cirurgia de hemorroidas, não permitiria examinar o restante do intestino. Desolado, concluiu que fora operado de uma doença óbvia, mas sem a investigação necessária para a sua idade, a fim de afastar a possibilidade de um tumor concomitante.

Argumentei que o importante era ir em frente e buscar consolidar a cura, sem a convicção de que minha solidariedade conseguiria diminuir sua frustração e seus temores. Ao final da longa conversa, sua mulher lembrou que a colonoscopia havia sido solicitada, mas seu marido relutara em aceitá-la. Nesse momento, ele a interrompeu, queixando-se de que, na época, não insistiram no exame.

Tempos depois, conversei com o outro cirurgião, meu amigo e do casal, que confirmou que nosso colega recusara fazer a colonoscopia.

— Afinal, era um médico! Além do que, três anos antes o tumor não estaria presente — tergiversou.

— Mesmo em estágio inicial? Ou um pólipo? — insisti.

A conversa não evoluiu. Em medicina, amizade e teimosia nem sempre colaboram nas decisões técnicas; mas a vida segue, mágoas se superam.

Meu paciente tolerou sem problemas a quimioterapia. Agora, passados cinco anos, permanece com seus exames pós-operatórios normais, sem sinais de recidiva. Tem realizado colonoscopia anualmente, e, nos dois exames iniciais após a cirurgia, novos pólipos foram retirados. Em breve, prescreverei a colonoscopia a intervalos maiores.

Essa história ilustra a necessidade de homens e mulheres serem submetidos a uma colonoscopia a partir dos 50 anos de idade, ou até mais cedo, em casos especiais, conforme orientam as sociedades de cancerologia.

E você, leitor?

Procure seu médico e converse com ele sobre sua necessidade de submeter-se a uma colonoscopia.

Fonte: O Globo

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