Revisão de Susan R. Davis publicada no Climateric avalia o panorama atual das evidências sobre a influência da testosterona em diversos aspectos da saúde e suas indicações terapêuticas em mulheres, especialmente na pós-menopausa.
“Not just sex: other roles for testosterone in women.”
– Susan R. Davis
Testosterona e Saúde Cardiovascular –
Estudos observacionais e ensaios clínicos apresentam achados confiantes:
- Estudos observacionais sugerem que baixos níveis de testosterona podem afetar negativamente a função endotelial, a pressão arterial e o perfil lipídico (aumento de triglicerídeos e redução de HDL).
- Apesar dos efeitos adversos aparentes da baixa testosterona e dos potenciais benefícios de níveis mais altos de testosterona no sangue em mulheres na pós-menopausa, ensaios clínicos não demonstram que a terapia com testosterona reduz eventos cardiovasculares.
- A testosterona pode ser um biomarcador de risco cardiovascular, mas não há evidências suficientes para recomendar sua reposição com essa finalidade.]
Testosterona e Saúde Mental –
1- Depressão e humor:
• Revisões sistemáticas analisaram a relação entre testosterona e sintomas depressivos, mas achados são inconsistentes.
• O estudo SHOW sugeriu que mulheres com testosterona baixa tinham maior risco de depressão, mas o efeito foi pequeno.
• Ensaios clínicos randomizados falharam em demonstrar melhora significativa do humor com reposição de testosterona.
Não há justificativa para o uso de testosterona no tratamento da depressão em mulheres.
Testosterona e Saúde Mental –
2- Função Cognitiva:
• Estudos observacionais e ensaios clínicos não mostraram associação consistente entre testosterona e melhora cognitiva.
• O estudo o SHOW não encontrou correlação entre testosterona e desempenho em testes cognitivos.
• Um pequeno estudo mostrou melhora na memória imediata com testosterona transdérmica, mas metanálises não confirmaram esse efeito.
A testosterona não deve ser utilizada para prevenção de declínio cognitivo ou demência.
Testosterona e saúde musculoesquelética:
• Análise de estudos observacionais não encontrou associação entre testosterona e massa/função muscular
• No estudo SHOW, níveis mais altos de testosterona foram associados o menor declínio da força de preensão manual em 4 anos.
• Ensaios clínicos controlados não demonstraram aumento significativo de massa muscular ou melhora da função física com a reposição de testosterona.
• Os dados sobre densidade mineral óssea e prevenção de osteoporose são inconclusivos.
Ainda não há evidências suficientes para o uso de testosterona como estratégia para melhora de massa muscular, função física ou saúde óssea em mulheres na pós-menopausa.
Considerações finais:
A testosterona é um hormônio endógeno essencial para as mulheres, exercendo efeitos fisiológicos significativos em diversos tecidos. Evidências de ensaios clínicos demonstram, de forma consistente, que a terapia com testosterona promove benefícios substanciais em diferentes domínios da função sexual, particularmente em mulheres na pós-menopausa com desejo sexual hipoativo. Entretanto, os efeitos extrapolados da reposição de testosterona em mulheres na pós-menopausa permanecem incertos.
Para sintetizar os dados atuais acerca do papel da testosterona além da função sexual em mulheres, foi publicado em janeiro de 2025 no Climacteric um artigo de revisão de Susan R. Davis, que apresenta o panorama das evidências da influência da testosterona em diversos aspectos da saúde, visando embasar a prática clínica e direcionar futuras investigações científicas no campo da terapia androgênica feminina.
Através da revisão de ensaios clínicos randomizados, metanálises e análise do estudo Sex Hormones in Older Women (SHOW), que acompanhou 6.358 mulheres entre 70 e 94 anos, com dosagem hormonal por espectrometria de massa e dados clínicos de 7 anos, o artigodestaca que:
Estudos observacionais não demonstraram associações claras entre os níveis sanguíneos de testosterona e desfechos clínicos em mulheres na peri e pós-menopausa. Dessa forma, não há evidências que sustentem a existência de uma síndrome clínica de deficiência de testosterona em mulheres neste período.
Dados do estudo SHOW indicam que mulheres entre 70 e 94 anos com concentrações reduzidas de testosterona apresentam maior risco de eventos cardiovasculares, piora do humor e declínio da função muscular, avaliada por meio da força de preensão manual. No entanto, ainda não está claro se esses achados refletem efeitos fisiológicos benéficos da testosterona ou se as concentrações séricas do hormônio atuam apenas como um biomarcador de melhor estado de saúde geral.
As evidências disponíveis não respaldam o uso da testosterona para mulheres de qualquer faixa etária na prevenção ou tratamento de doenças cardiovasculares, sintomas depressivos, desempenho cognitivo, perda muscular, osteopenia ou osteoporose ou para qualquer outra condição clínica que não seja o transtorno do desejo sexual hipoativo. Dessa forma, a inclusão da testosterona como componente rotineiro da terapia hormonal da menopausa para todas as mulheres carece de justificativa científica.
Para esclarecer o real papel da testosterona na saúde feminina, são necessários estudos de grande porte em amostras representativas de mulheres bem caracterizadas, com dosagens hormonais precisas e controle rigoroso de variáveis de confusão. Caso sejam identificadas associações consistentes entre níveis de testosterona e sintomas específicos, essas hipóteses devem ser validadas por meio de ensaios clínicos randomizados, com poder estatístico adequado e duração suficiente para determinar seus efeitos clínicos de forma robusta.
• Embora a testosterona tenha um papel importante na fisiologia feminina, não há evidências robustas para seu uso clínico em doenças cardiovasculares, depressão, cognição, função muscular ou óssea.
• O único benefício terapêutico bem estabelecido da reposição de testosterona é para mulheres com desejo sexual hipoativo na pós-menopausa.
• Estudos adicionais, com maior rigor metodológico e duração adequada, são necessários para esclarecer se há benefícios em outras áreas da saúde.
• Não há justificativa para incluir testosterona de forma rotineira na terapia hormonal da menopausa.
• O monitoramento preciso dos níveis hormonais é essencial para avaliar potenciais riscos e benefícios.
Referências: Davis SR. Not just sex: other roles for testosterone in women. Climacteric. 2025 Jan 17:1-4.