A eterna polêmica: Ácido Fólico vs Ácido Metilfolato
Não é verdade que ácido fólico não deve ser usado por humanos
Trago 3 verdades
- NÃO é verdade que metilfolato é melhor que ácido fólico.
- NÃO! NÃO é verdade que metilfolato é melhor que ácido fólico.
- NÃO é absolutamente verdade que metilfolato é melhor que ácido fólico.
E, por fim: dizer que ácido fólico “não deve ser usado por humanos” é mais que um erro é uma estultice absurda, uma aberração descolada da ciência e da prática clínica responsável.
Fatos com base em evidências científicas:
– O ácido fólico é a forma sintética do folato e foi a substância usada em todos os ensaios clínicos randomizados (ECRs) e nas revisões sistemáticas que comprovaram sua eficácia na prevenção de defeitos do tubo neural (DTNs).
– O metilfolato, apesar de ser a forma ativa, não demonstrou superioridade clínica em
nenhum ensaio clínico relevante. O que existe são estudos com desfechos substitutos, como folato eritrocitário ou níveis de ácido fólico não metabolizado e isso não basta.
– Os polimorfismos da enzima MTHFR (como C677T e A1298C) estão presentes em até 50% da população, e ainda assim, os efeitos protetores do ácido fólico foram demonstrados em populações que incluíam amplamente pessoas com esses polimorfismos.
Rationale não é evidência.
O argumento de que “metilfolato é melhor porque é a forma ativa” é um raciocínio mecanicista e isso não substitui ensaios clínicos randomizados com desfechos clinicamente relevantes. Não basta imaginar que uma molécula “parece melhor”. É preciso demonstrar na prática que ela melhora os desfechos.
Por exemplo: um ensaio clínico randomizado (ECR) testando metilfolato vs ácido fólico para
prevenção de perda gestacional recorrente (PGR) não encontrou diferença. E o desfecho mais
relevante, nascimento de bebê vivo, não melhorou.
Evidência, não achismo:
Busca PubMed com termos e descritores sobre ácido fólico vs metilfolato para prevenção de DTNs:
(“5-methyltetrahydrofolate” [Supplementary Concept] OR “N(10)-methylfolate” [Supplementary Concept] OR “(5)N,(8)N-deaza-(10)-N-methylfolate” [Supplementary Concept] OR “methylfolate”) AND (“Folic Acid”[Mesh] OR “folic acid”) AND “neural tube defects”
Ou para qualquer coisa na gravidez:
(“5-methyltetrahydrofolate” [Supplementary Concept] OR “N(10)-methylfolate” [Supplementary Concept] OR “(5)N,(8 N-deaza-(10)-N-methylfolate” [Supplementary Concept] OR methylfolate”) AND (“Folic Acid”[Mesh] OR “folic acid”) AND “neural tube defects”
Resultado: não há ECRs demonstrando superioridade do metilfolato sobre o ácido fólico para
prevenção de DTNs ou qualquer outro desfecho clinicamente relevante.
Faz mal usar metilfolato?
Não (exceto talvez ao bolso). Mas não é melhor que o ácido fólico!
Sobre autismo, gemelaridade e câncer materno: Não, ácido fólico não causa autismo! Também não causa gemelaridade espontânea, nem aumenta risco de câncer materno.
Revisão sistemática da USPSTF publicada no JAMA (2023) com mais de 760 mil participantes reforça isso. Sete dos 12 estudos incluídos avaliaram autismo como desfecho e não encontraram associação negativa com o uso de ácido fólico.
Leia: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2807740
Basta de tocar o terror nas gestantes. Basta de culpar mães. Basta de capacitismo disfarçado de ciência.
O que falta aqui não é metilfolato.
É honestidade intelectual. É ciência. É ética.